quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"Briga" de GIGANTES



Foucault: Um maoísta me dizia: "Eu compreendo porque Sartre está conosco, porque em que sentido ele faz política; você, eu compreendo um pouco: você sempre colocou o problema da reclusão. Mas Deleuze, realmente eu não compreendo." Esta observação me surpreendeu muito porque isto me parece bastante claro.

(...)

Gilles Deleuze: Uma teoria é como uma caixa de ferramentas. Nada tem a ver com o significante...É preciso que sirva, é preciso que funcione. (...) Nâo se refaz uma teoria, fazem-se outras; há outras a serem feitas. (...) Proust, que o tenha dito tão claramente: tratem meus livros como óculos dirigidos para fora e se eles não lhes servem, consigam outros, encontrem vocês mesmos seu instrumento, que é forçosamente um instrumento de combate. A teoria não se totaliza; a teoria se multiplica e multiplica.

Magazine Littéraire: E o que é feito de Nietzsche? Espanto-me com sua presença difusa, mas cada vez mais forte, em última análise em oposição à hegemonia de Marx, no pensamento e no sentimento contemporâneos de uns dez anos pra cá.

M. Foucault: Hoje fico mudo quando se trata de Nietzsche . No tempo em que era professor, dei frequentemente cursos sobre ele, mas não mais o faria hoje. Se fosse pretensioso, daria como título geral ao que faço "genealogia da moral."
Nietzsche é aquele que ofereceu como alvo essencial, digamos ao discurso filosófico, a relação de poder. Enquanto que para Marx era a relação de produção. Nietzsche é o filósofo do poder, mas que chegou a pensar o poder sem se achar no interior de uma teoria política.
A presença de Nietzsche é cada vez mais importante. Mas me cansa a atenção que lhe é dada para fazer sobre ele os mesmos comentários que se faz sobre Hegel ou Mallarmé. Quanto a mim, os autores que gosto, eu os utilizo. O único sinal de reconhecimento que se pode ter com um pensamento como o de Nietzsche, é precisamente utilizá-lo, deformá-lo, fazê-lo ranger, gritar. Que os comentadores digam se é ou não é fiel, esto não tem o menor interesse.


p.s.: Então tá, né?!Vou me recolher a minha insignificância e vou ficar muda!!!hehehe
Mas antes, faço a mesma pergunta de Littéraire: "E o que é feito de Nietzsche?" rsrsrs

3 comentários:

  1. Ah! Esse post me foi um manjar dos deuses para mim!

    Bah, seria interessante também falar das relações de poder do Foucault, muito visto atualmente.

    E de Nietzsche? O que se faz de Nietzsche?

    Ah, meu preferido! Era póstumo. Disse que só o entenderiam, ou mesmo leriam, mais de cem anos depois, o que de fato ocorreu. E hoje estamos aqui. O que se faz de Nietzsche? Invertem-se os valores.

    Bom, e pra finalizar:

    "Só se permanece filósofo quando se fica em silêncio" - Nietzsche

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  2. Marcos,
    Perfeita sua colocação!

    Nietzsche referiu bem isso, que só iriam lê-lo e, entendê-lo depois de sua morte, muitos anos depois.

    E de fato. São escritos de outros séculos, outras épocas, mas te digo, são tão contemporâneos, tão necessários e perfeitos, que espanta!Se vc for fazer uma releitura das prisões em Foucault, Nietzsche, Camus, é exatamente o que vemos hoje em dia!

    Sou uma apaixonada por esses caras!

    Beijos meus


    p.s.: "Só se permanece filósofo quando se fica em silêncio" - Nietzsche [2]

    PERFEITO!

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  3. Agora só falta esperar o super-homem, rsrs. Assim falou Zaratustra, rsrs. Mas parece que a terra é feita de criptonita, rsrs.

    Eram três visionários, e dos melhores. Somos nós dois, então, uns apaixonados por esses caras.

    Beijos retribuídos, e outros mais. Que fascínio!

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