quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A busca da sensibilidade por Luis Alberto Warat


Ninguém melhor que Warat para falar de amor, de alma, de sensibilidade. Essa busca que ele travou de forma linda, essa busca pelo amor tomado pelo amor. A alma desnudada, como ele me disse uma certa feita: "te desnuda Fernanda." É o que estou tentando fazer, mas as pessoas estão pouco preocupadas com o amor que temos para lhe oferecer e estão muito menos preocupadas em retribuir este amor. O amor nada mais é do que um gesto, um gesto amoroso. Não sei muito como expressar esse vazio que fica com sua partida, mas o que me consola é que suas obras continuarão vivas entre nós!

Carta de Albano Pêpe à Warat:

Querido amigo: Pulsões são energias direcionáveis para homens como você e eu. O envelhecimento natural (estamos em nosso último quarto de vida neste planeta e com a forma que somos) traz consigo a sebedoria da cósmica que se manifesta na vida natural neste plano sublunar.

Tal sabedoria significa que estamos deixando de lado, um certo mundo de ficções que vivemos e que participamos de sua construção. Amigos antigos, familiares, vida profissional, projetos voltados para a sustentação de imagens narcísicas, são algumas das capas que nos envolveram, veja bem, que nos envolveram nos três quartos de existência que experimentamos. Deles, nos restam fragmentos que às vezes teimamos em preservar, em manter, normalmente por temor ao que pode vir neste momento em que nos sentimos fragilizados por fazermos um balancete da vida vivida.

Não devemos colocar nossas vidas no tribunal da razão como o queria Kant ao tratar da natureza. Fomos lagartas e crisálidas, h oje somos borboletas, a última mutação, a mais frágil e mais bela delas, não como reviver o passado apenas deixar que seus fragmentos aconteçam como fulgurações. O eterno retorno de cada um permite que nos saibamos em cada transformação, em cada etapa que se esvai.Saibamos tão somente construir o que somos, agora, em cada momento, não importam as intempéries e contratempos.
Vivamos o hoje que já é futuro para nós, visto que não dispomos de muito tempo sublunar para adiarmos idéias, projetos, paixões, apenas os jovens têm direito a criar ilusões como o fizemos quando eramos jovens.Somos dignos do que somos, querido amigo, cabe reconhecermos a subjetividade que fomos capazes de construir, como poucos o conseguiram. Neste momento de nossas vidas, a humildade é a maior das sabedorias que podemos cultivar.

Querido, lemos porque gostamos não porque tenhamos muito ainda que aprender. Os autores que lemos, as obras que assistimos ou escutamos, s ão interlocutores privilegiados que construimos de acordo com nossos desejos, conscientes ou não.Não resista ao movimento das correntes marítimas que te conduzem para esta nova viagem, não é sábio resistir às forças naturais que envolvem teu corpo, corpo que aos poucos se despe dos pesados vestuários que podem impedir que flutuemos delicadamente ao sabor dos elementais que nos resgatam.

Sociedades de extermínio só existem para os exterminadores e os que se deixam exterminanar, individual ou coletivamente.Pelo tempo sublunar amanhã é o ultimo dia do ano 2009, no entanto, além deste o tempo é um só e amanhã não será o último nem o primeiro dia de nada. Vivemos os dois planos, sucessiva e simultaneamente, saibamos vivê-los e ergamos um brinde a todos os da nossa espécie.

Carinhosamente Albano Pêpe



p.s.: Os bons estão nos deixando!!

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