quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Presente do amigo Tião Martins.



(Foto de arquivo pessoal)

A paixão de Fernanda B.

Tião Martins

Aqueles que abandonam pela metade o curso de Direito raramente sabem explicar, de forma convincente, até para eles próprios, os seus motivos. Algumas justificativas são comuns: “Cansei daquilo, por me sentir frustrado. Não era o que eu esperava. O curso é monótono, repetitivo, distante da vida real e inimigo do raciocínio e da imaginação. Puro decoreba, sem o direito sequer de mudar certas palavras”.
Alguns culpam os professores, alegando que são burocratas acomodados à rotina e repetidores de ideias alheias. Gente que não estuda, não se renova e não pensa. Ou, se pensa, esconde seus pensamentos. Outros, mais sensíveis, alegam que não encontraram no curso o espírito, vitalidade e emoção que julgam essenciais na formação de um profissional que existe para defender a dignidade humana.
E aqueles que só pensavam em ganhar fama e fortuna logo se convenceram de que, no Brasil, é mais fácil ser milionário e famoso como ator da Rede Globo, craque de futebol ou cirurgião plástico especializado em estética.
O certo é que os cursos de Direito estão entre os mais abandonados pelos alunos, que logo nos primeiros anos percebem que há enorme distância entre a realidade nacional e aquilo que lhes ensinam na sala de aula.
A postura de certos mestres chega a ser meio esquizofrênica, quando se recusam a estabelecer comparações entre o conteúdo da aula e a dramática realidade que a mídia revela a cada dia. Aliás, eles se recusam até mesmo a falar do presente, por temor de que jogue por terra suas teorias.
Esses mestres do desânimo dão a impressão de que a tarefa deles é levar a maioria a desistir de qualquer ofício relacionado com o Direito. E, em muitos casos, não é só impressão. Como acontece nos cursos universitários de Pedagogia, Letras e Comunicação, entre outros, os velhos professores sentem pena dos jovens alunos. Ou desprezo, sentimento que não é incomum, entre os medalhões.
Nesse cenário hostil, é um milagre que alguns alunos conservem a paixão original, rejeitem o naufrágio da ética e sobrevivam ao desânimo geral. São poucos, mas a fidelidade deles ao Direito irá manter, pelos próximos anos, o prestígio social que merecem os profissionais da dignidade humana.
Vem daí o contentamento de descobrirmos, no interior do Rio Grande do Sul, uma jovem chamada Fernanda Barcellos, que é especialista, concluirá seu mestrado este ano e conserva integralmente a paixão pelos fundamentos de um ofício que sustenta a democracia, a justiça e a liberdade.
A injustiça desperta em Fernanda B. não só rejeição, mas altivo protesto. E ela não perde a esperança. Nas últimas horas de 2011, escreveu em um dos seus blogs (intitulado “...e no meio da fuga...), um recado ou petição que a Nação brasileira gostaria de endossar:
“Se eu tivesse direito a um pedido para este ano de 2012, pediria menos. Menos hipocrisia, menos falsidade, menos gente interesseira e mais gente interessante, menos arrogância, menos sonhos interrompidos, menos egoísmo. Menos distâncias, menos vazios, menos saudades, menos cara feia, menos razão e mais coração. Menos rugas de preocupação. E, por favor, mais respeito, e que o ser humano, enfim, se torne humano”.
Em nome da humanidade, que juiz ordenará o cumprimento desse mandato?



3 comentários:

  1. Nossa que ótima Nota, Parabéns Fernanda, pelo amor, dedicação e lealdade a sua profissão. Abraços e muito sucesso

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  2. Oi, tudo bom?
    Bem legal teu blog. Layout bem clean, textos/fotos bem objetivos. Gostei. E vou recomendar pras minhas amigas de Cercadinho, ok? Pra que elas venham aqui visitar teu blog.
    Beijos,
    Wanderlei
    www.o-cercadinho.blogspot.com

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  3. Fernanda, eu como advogada militante há 07 anos, me sinto frustrada, mas sigo em frente...porque temos que seguir. Amo minha profissão. Mas infelizmente, o direito brasileiro está longe de prestigiar a justiça. Mas foi lindo seu desejo para 2012.Que assim seja!

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